segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Modernidade

"Tantos instrumentos inventados para guiar-nos em nossas experiências e suprir a precisão de nossos sentidos, fazem com que negligenciemos exercitá-los..." Emílio ou Da Educação, J.J Rousseau.
  
Por estes dias, estava eu em casa, lendo como de costume, em determinado momento tive vontade de assistir televisão, me dirigi até a sala de estar, peguei o controle remoto, sentei no sofá e liguei a televisão, comecei assitindo um determinado programa de documentário, após o término, o programa seguinte não me agradou, então, senti vontade de mudar de canal, ai começou o meu problema, pressionei o botão de mudança de canal e, pasmem nada aconteceu, pressionei outra vez e nada, de novo e nada, insisti mais um pouco e nada, então, cheguei a conclusão que as pilhas do controle remoto não estavam mais funcionando, tinham acabado. Para minha surpresa, fiquei parado, atônito, perplexo, sem saber o que fazer, pois o instrumento que tanto me acostumei a usar, não estava funcionado, acreditem não tive a coragem de me levantar e mudar de canal, preferi assistir o que estava passando, mesmo não gostando do que estava vendo e ouvindo.

Há um tempo, parei, pensei, levantei, desliguei o aparelho de TV. O que me veio a cabeça? Justamente este pequeno trecho do Livro III da Obra Emílio ou da Educação. Percebí que estava passando por esta experiência narrada pelo autor do livro, "Tantos instrumentos inventados", tantas máquinas, aparelhos, instrumentos, dispositivos e etc, todos inventados para o nosso auxílio e, quando eles falham é que percebemos o quanto estamos dependentes destes ditos "auxiliares". Refleti um pouco e não acreditei, ufa, estou preso, acorrentado, algemado, dependente, senão vejamos: fora o episódio do controle remoto que foi o despertar, tive outros incidentes que comecei a lembrar. Outro dia fiquei sem efetuar ligações telefônicas para algumas pessoas que precisei, justamente porque meu celular estava com problemas e não pude acesar a minha agenda, pois quando quero fazer uma ligação uso a agenda e num passe de mágica a ligação é feita, não olho nem para o número e, assim não preciso usar minha memória para aprender os números dos telefones e fazer as ligações. Outra vez, fui fazer um suco de laranja, mas, quando procurei o espremedor de frutas, estava faltando a peça que é pressionada para o aparelho funcionar, então, o que houve? Desisti do suco, porque não queria espremer manualmente, que vergonha. Meus pais moram a uns três quarteirões da minha casa, no máximo 400 metros de distância, mas, só tenho coragem de ir lá se for de carro, digo aqui, com a maior das vergonhas que me acostumei a só andar de carro. E tudo isso só pra citar alguns exemplos de como tenho deixado de ter experiências próprias, para sentí-las por meio de instrumentos, negligencio constantemente o uso de meu corpo, por minutos de ao meu ver, agora, classifico como luxo da era chamada modernidade.

Lembro-me de um tempo em que tinha minhas próprias experiências e, consequentemente não negligenciava meus sentidos. Para os mais novos, você pode até não acreditar, mas, houve um tempo em que para se comprar o botijão de gás, tinha-se o calendário da Gás Butano, que programava o caminhão do gás para passar nos bairros de 15 em 15 dias, portanto, caso o seu gás acabasse antes do tempo, você só tinha duas alternativas, ou esperava o caminhão passar de novo, ou colocava o botijão nas costas, ou num carrinho de mão e ia até o posto de gasolina mais próximo onde se vendia botijão, chegando lá você enfrentava uma fila enorme até a chegada do caminhão extra, que muitas vezes só chegava por volta de meio dia, é amigo a vida era mais dura, mais era mais legal também, fiz muitas amizades nestas filas de esperas. Hoje é diferente, acabou o gás a gente liga, vem o motoqueiro entregar na porta da nossa casa e, ainda por cima faz a troca do botijão velho pelo novo, quanta modernidade. Voltando mais um pouco ainda no tempo, coisa mais difícil era um telefone em casa, quando as pessoas queriam fazer uma ligação, elas usavam o velho orelhão, era uma fila que não tinha tamanho e, eram nessas filas que as pessoas colocavam as conversas em dia, enquanto esperavam sua vez de usar o aparelho. Atualmente, quando estou deitado em casa e alguém atende o telefone e diz que é pra mim, pergunto logo quem é? E digo pra informar a pessoa que desligue, que eu vou ligar pra ela do meu celular, lógico, tudo isso porque não quero me levantar da cama, nossa quanta preguiça.

Não quero que me entendam mal, não estou dizendo que os tempos dificéis, eram melhores que os atuais, tampouco, estou dizendo que a modernidade com seus benefícios e prazeres não são bons. O que estou tentando dizer e mostrar é que, quando damos mais valor a coisa, o objeto, do que as pessoas, do que a gente próprio e, deixamos de fazer certas atividades, simplesmente, porque naquele momento, ou hora, não temos o auxilios desses instrumentos, é porque a coisa tá séria, quando isso acontecer, é porque é hora da gente repensar nossas atitudes e, perguntar se é relamente isso que queremos para nossas vidas? Seres dependentes de máquinas, de dispositivos de instrumentos. Seres que para se divertirem, precisam de um computador, de um celular, de um tablet ou coisa parecida, não interagimos mais entre si, não brincamos, não jogamos, não exercitamos nossos sentidos, isso no mundo físico, porque fazemos tudo isso no mundo virtual, por isso, citei (computador, celular, tablet e etc).

Vou parar por aqui, pois o texto tá ficando grande. Mas, não posso terminar sem dizer, que ainda há tempo de despertamos de nosso sono da dependência da modernidade e voltarmos a ter nossa independência, que tanto lutamos e conquistamos, devemos sim usar as coisa modernas que tanto nos ajudam, mas ficarmos dependentes delas isso não. 

Fui, abraço a tod@s.............

Edney Silva

2 comentários:

  1. O texto acima poderia também ser intitulado de "Praticidade", pois nos remete a idéia de que a modernidade está diretamente relacionada a ela, pois estamos nos acomodando na nossa "bolha" de zona de conforto. Quando nós, por alguma razão, ficamos sem os mecanismos que tornam nossa vida mais fácil, não temos a iniciativa de ir em busca daquilo que almejamos por puro comodismo ou até mesmo, devido a falta de prática manual, resolver um problema. É o caso do uso do controle remoto da TV, dito no texto. Quando nos vemos sem ele, sem funcionar, não temos a coragem de nos levantarmos da poltrona (zona de confroto) e irmos atrás de resolver o problema manualmente (mexer diretamente na TV nos botões abaixo da tela), e optamos em deixar pra lá. Por outro lado, como tudo na vida tem os "pros" e "contra", o "pros" nos possibilita uma otimização do nosso tempo, já que o controle remoto em um segundo você muda de canal e assite o que quer, e, sem ele, o tempo gasto em se levantar da cadeira, andar até a TV, apertar o botão dos canais na tela varias vezes ate chegar ao canal desejado, voltar e sentar-se novamente, pode implicar em perder uma grande cena do filme ou da novela.

    JOSUÉ LIMA

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  2. Olá Josue Lima, ficou muito feliz por você está acessando meu blog, concordo contigo, bem que essa reflaxão poderia ter o título de praticidade, porém, resolvi deixar este título porque algum tempo atrás havia passado um e-mail para alguns amigo com esta reflexão e usei esse título, por isso, quando resolvi publicar no meu blog mantive o mesmo título, Ok.
    Mais uma vez agradeço sua participação e seja sempre bem vindo.
    Um grande abraço.

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