terça-feira, 5 de agosto de 2014

Cidades Utópicas

Ontem (31/07/2014) assisti a uma reportagem no Jornal da Record, se não me falha a memória, com a qual fiquei perplexo e, um tanto quanto perturbado, a reportagem aduzia ao desmanche e captura de uma quadrilha na região sul do nosso país, que se especializou em entregar drogas a domicílio, isto mesmo, uma disque drogas, a exemplo de disque pizzas, disque frango e por ai vai, mas disque drogas beira ao absurdo. Vale ressaltar que, a quadrilha fora presa simplesmente numa mansão avaliada em mais de um milhão de reais, com aparato tecnológico altíssimo, e mobília altamente sofisticada é, infelizmente traficar drogas dá dinheiro e muito.

Ocorre que, no meio dos traficantes presos havia o líder e sua esposa, um bonito jovem casal, que não estavam nenhum pouco preocupados com a prisão, pareciam mais estar curtindo uma viagem de férias, do que uma privação de liberdade, o rapaz rindo e dizendo a todo momento e claramente debochado, que estar ali era muito bom, “que tipo de cadeia é essa tenho oito refeições por dia e sou tratado muito bem....”, perguntado a sua “digníssima” esposa o que ela achava, ela respondeu rindo, diga-se de passagem “Isso aqui não é nada, logo vamos sair pela porta da frente, e estaremos na rua e será tudo como antes, maravilhoso...”. Pasmem, foi desse jeito, a certeza da impunidade é evidente e clara para eles, não há com o que se preocupar, e muito menos com quem se preocupar, a liberdade é certa, como dois mais dois são quatro, me desculpem os operadores do direito, mas nesse caso a justiça, faz jus ao adágio popular que tanto ouvimos “A justiça é Cega”. Ridículo isso.

Não se pode permitir esse tipo de acontecimento, onde criminosos zombam da sociedade e das autoridades constituídas, que podem não serem perfeitas mais existem e devem ser respeitadas. Conheço algumas pessoas que demandam pelo fim das Instituições, Governo, Justiça, Polícia e etc. Mas não consigo conceber tal pensamento, pois penso que isso só será possível em uma cidade dita perfeita, mas espera ai...., até nas cidades já imaginadas perfeitas como A República de Platão, A Utopia de Thomas More, A Cidade do Sol de Tommaso Campanella e outras mais que tive a oportunidade de ler, não descartam essas Instituições, pois abolir propriedade privada e compartilhar tudo com todos, não exclui as Instituições, pelo contrário as fortalece.

Na República de Platão tinham os Guardiões que governavam a cidade, agora para isso eram preparados a vida toda, era a visão clássica de Platão sobre o Filósofo-Rei, aquele que têm competência para governar e governar bem, o que falta muito hoje em dia devo reconhecer. Tinham também os Guerreiros que protegiam a cidade tanto, de ataques internos, quantos os externos. Aqui abro uma brecha, para comentar o que pude observar em algumas manifestações acontecidas recentemente, vi alguns manifestantes com cartazes do tipo “Fim da Polícia”, “A ditadura acabou, só esqueceram de avisar a Polícia”, “Livrai-nos da Polícia Militar”, e tantas outras, agora pergunto, Como acabar com a Polícia, se nem mesmo as cidades imaginadas perfeitas não acabaram?  É irresponsabilidade sugerir tal empreitada, pois a Polícia é necessária sim, não para ser contra o povo, mas para ser pelo povo e para o povo, pois é assim que ela é pensada nas utopias, e nem mesmo Thomas More, que pensou uma cidade totalmente diferente da sociedade atual, imaginou a sua utopia sem Exército, sem Polícia, a primeira vista parece que sim, mas não é ele apenas sugeriu que tanto Exército, quanto a Polícia fossem temporárias, alistadas em tempo de guerra ou perturbação da ordem pública, primeiro os governantes da utopia iriam alistar pessoas de fora da cidade, os chamados mercenários, se não os conseguissem, ai alistariam os próprios habitantes da Utopia, que fariam eles mesmos os serviços do exército e da polícia. Já na cidade do sol temos três príncipes que auxiliavam um governante máximo e, dentre esses príncipes um chamado Potência seria o responsável pela arte militar, ou seja, tinha Exército e Polícia, que lutavam pela manutenção e ordem da cidade.

Assim, nem mesmo as cidades perfeitas foram imaginadas sem governo ou polícia, e não é porque se é contra a propriedade privada e pelo direito de igualdade para todos, que não se pode ter ordem e uma justiça forte. Alguns podem até achar meu ponto de vista contraditório e paradoxal, mas não é bem assim, cito ainda, Cuba, País que muitos manifestantes aplaudem como modelo socialista, mas que não aboliram suas Forças Armadas e sua Polícia, pois trocar de nome não significa abolir, em Cuba existe as Forças Armadas Revolucionárias Cubanas as chamadas FAR, bem como a Polícia Nacional Revolucionária – PNR, que foi criada em 5 de janeiro de 1959, após o triunfo da revolução, substituindo a chamada "Polícia Rebelde" e como ela de forte inspiração ideológica, inclusive essa polícia tem várias viaturas, rádios de comunicação, e usa armamento sim, uma pistola e cassetete, igualzinha a daqui, e tem até um Batalhão de Elite estilo BOPE, que é chamado de Brigada Especial Nacional, criada em 8 de agosto de 1980, que tem muitas atribuições, mais vou citar apenas uma que é “Prevenir ações contra o patrimônio nacional cubano, evitando a vandalização, roubo ou mutilação”, ou seja, se tivesse tido em Cuba as manifestações que tiveram ultimamente aqui no Brasil, não quero nem pensar na ação da Polícia especial cubana, seria muita sola mesmo.

E isso, sem falar em vários outros países socialistas, que nem por serem ditos sociais, descartaram seus Governos, suas Forças Armadas e suas Polícias. Assim não vejo razão alguma para se ter ódio das Instituições como um todo e, querer o seu fim. O problema não é as Instituições em si, mas os homens que se apoderam delas, portanto, se não estamos satisfeitos com o modelo atual, nem com as pessoas que ai estão devemos renová-lo e lutarmos por um mundo melhor e não querer destruí-lo, pois precisamos de Instituições fortes e sadias para que episódios como o que narrei acima não se repitam, ao contrário sejam combatidos e que não sirvam de modelos para os mais novos e inexperientes e, que o Estado de uma forma geral possa dar a todos Direitos e Deveres iguais, pois Parafraseando Thomas More na já citada obra Utopia, quando ele diz que, mesmo a Inglaterra de seu tempo punindo os roubo e assaltos com a morte, não se acabavam os ladrões e nem mesmo a violência, mas, se ao invés disso para o Estado não seria melhor garantir a subsistência de todos a fim de que ninguém fosse obrigado a roubar para se manter. No caso em questão, traficar e outras coisas mais.

Portanto, sou a favor da continuidade das Instituições, desde que elas mantenham o foco no bem-estar do Povo, razão maior de sua existência, e possam cada vez mais serem renovadas e atualizadas, a fim de proporcionarem sempre o melhor para todos, penso que isso pode ser alcançado, basta cada um fazer a sua parte.